Pseudônimo de Trabalho: Pérola

Yan Sales
1 min readSep 9, 2021

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Estava na entrada no Hotel Pedro II, uma das inúmeras pocilgas do submundo carioca, ali, bem pertinho da Providência e da Central do Brasil; ficava entre uma loja de doces e um depósito de bebidas repleto de gente que não tinha mais nada de interessante para fazer ou ainda não tinha coragem de voltar para casa depois do trabalho. Ela estava com o máximo de empenho para angariar sua clientela de cada dia. Escolheu a roupa que melhor lhe convinha — considerando o calor de fevereiro e a necessidade de chamar atenção dos marmanjos. Sua dança tímida era regida por um hit de três verões passados que tocava numa lojinha chinesa do outro lado da rua.

Ia perdendo a criatividade para proferir gracinhas aos transeuntes e seu sorriso se afrouxava. Era sempre assim: as horas passavam e levavam consigo a força de trabalho. Sorte é de quem pode se dar ao luxo de dizer chega, ela pensou; o terceiro mês de aluguel estava para vencer. Achava que ao menos conseguiria atender seu Mário. Era gente boa quando não bebia. Só aparecia de noite. Era apaixonado pelo seu pé, em especial pela sombra do pé que se formava sob a lâmpada do quartinho cheirando a mofo. Pérola se considerava uma enciclopédia de bizarrices apesar da idade.

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